O Aborto Litúrgico – Hendrika Lopes Vasconcelos (crianças no culto)

Na Islândia, praticamente não existem crianças com Síndrome de Down. Não é porque conseguiram reverter os efeitos da mutação genética, mas simplesmente porque mataram os bebês que a possuíam.

Existem várias igrejas que conseguiram erradicar o barulho das crianças do culto. E geralmente, não é porque conseguiram “domar” ou educar os pequenos desde o berço, mas simplesmente porque preferiram eliminar as crianças do culto, isolando-as em salas especiais ou afugentando as mães da igreja.

Mas…

Lugar de bebê pequeno choroso é no culto, SIM.
Lugar de criança hiperativa é no culto, SIM.
Lugar de criança birrenta é no culto, SIM.
Lugar de criança tagarela é no culto, SIM.
Lugar de criança desobediente é no culto, SIM.

Sabe por que?

Porque elas precisam da Igreja. Elas precisam da comunhão. Elas precisam da palavra. Elas precisam da graça e do amor dos outros membros.

A única diferença entre o adulto que desaprova de criança no culto e a criança birrenta ao seu lado é que o adulto já aprendeu a esconder os pecados, enquanto a criança as escancara sem medo.

O culto não é um serviço pelo qual pagamos com nossos dízimos e esperamos receber o produto impecável com o direito de não sermos atrapalhados pelos outros. O culto não se resume apenas à pregação da Palavra. Caso fosse isso, você poderia bem “cultuar” em casa sozinho assistindo pela internet. Mas Deus usa a Igreja e as situações desconfortáveis para trabalhar no nosso coração também.

A adoração em comunhão nos ensina a adorar e cultuar como CORPO e não como indivíduos. Isso significa que adoramos a Deus como CORPO, cantando desafinados e afinados juntos. Isso significa que adoramos a Deus como CORPO, lendo a Palavra e ensinando os pequenos a amarem a ler também. Isso significa que oramos a Deus como CORPO, sabendo que o Espírito intervém nas orações tanto dos mais cultos e dos mais humildes.

Somos CORPO e as crianças fazem parte dessa aliança também. Você não tem mais direito de estar no culto do que elas. Se você ama a Cristo, você ama seu Corpo. E você tem o dever de incentivar as crianças a amarem estar lá.

Amemos as crianças, seus papais e suas mamães no culto. Não façamos aborto litúrgico.

Carta à Bispa Evônia por Augustus Nicodemus


[*Nota – é mais uma carta ficticia, gênero que uso como maneira de tornar as minhas idéias mais interessantes para o leitor. Minha esposa não tem (ainda) nenhuma amiga que virou bispa.]

Minha cara Evônia,

Minha esposa me falou do encontro casual que vocês duas tiveram no shopping semana passada. Ela estava muito feliz em rever você e relembrar os tempos do ginásio e da igreja que vocês frequentavam. Aí ela me contou que você foi consagrada pastora e depois bispa desta outra denominação que você tinha começado a frequentar.

Ela também me mostrou os e-mails que vocês trocaram sobre este assunto, em que você tenta justificar o fato de ser uma pastora e bispa, já que minha esposa tinha estranhado isto na conversa que vocês tiveram. Ela me pediu para ler e comentar seus argumentos e contra-argumentos. Não pretendo ofendê-la de maneira nenhuma – nem mesmo conheço você pessoalmente. Mas faço estes comentários para ver se de alguma forma posso ser útil na sua reflexão sobre o ter aceitado o cargo de pastora e de bispa.

Acho, para começar, que você ser bispa vem de uma atitude de sua comunidade para com as Escrituras, que equivale a considerá-la condicionada à visão patriarcal e machista da época. Ou seja, ela é nossa regra, mas não para todas as coisas. Ao rejeitar o ensinamento da Bíblia sobre liderança, adota-se outro parâmetro, que geralmente é o pensamento e o espírito da época.

E é claro, Evônia, que na nossa cultura a mulher – especialmente as inteligentes e dedicadas como você – ocupa todas as posições de liderança disponíveis, desde CEO de empresas a presidência da República – se a Dilma ganhar. Portanto, sem o ensinamento bíblico como âncora, nada mais natural que as igrejas também coloquem em sua liderança presbíteras, pastoras, bispas e apóstolas.

Mas, a pergunta que você tem que fazer, Evônia, é o que a Bíblia ensina sobre mulheres assumirem a liderança da igreja e se este ensino se aplica aos nossos dias. Não escondo a minha opinião. Para mim, a liderança da igreja foi entregue pelo Senhor Jesus e por seus apóstolos a homens cristãos qualificados. E este padrão, claramente encontrado na Bíblia, vale como norma para nossos dias, pois se baseia em princípios teológicos e não culturais. Reflita no seguinte.

1. Embora mulheres tenham sido juízas e profetisas (Jz 4.4; 2Re 22.14) em Israel nunca foram ungidas, consagradas e ordenadas como sacerdotisas, para cuidar do serviço sagrado, das coisas de Deus, conduzir o culto no templo e ensinar o povo de Deus, que eram as funções do sacerdote (Ml 2.7). Encontramos profetisas no Novo Testamento, como as filhas de Felipe (At 21.9; 1Co 11.5), mas não encontramos sacerdotisas, isto é, presbíteras, pastoras, bispas, apóstolas. Apelar à Débora e Hulda, como você fez em seu e-mail, prova somente que Deus pode usar mulheres para falar ao seu povo. Não prova que elas tenham que ser ordenadas.

2. Você disse à minha esposa que Jesus não escolheu mulheres para apóstolas porque ele não queria escandalizar a sociedade machista de sua época. Será, Evônia? O Senhor Jesus rompeu com vários paradigmas culturais de sua época. Ele falou com mulheres (Jo 8.10-11), inclusive com samaritanas (Jo 4.7), quebrou o sábado (Jo 5.18), as leis da dieta religiosa dos judeus (Mt 7.2), relacionou-se com gentios (Mt 4.15). Se ele achasse que era a coisa certa a fazer, certamente teria escolhido mulheres para constar entre os doze apóstolos que nomeou. Mas, não o fez, apesar de ter em sua companhia mulheres que o seguiam e serviam, como Maria Madalena, Marta e Maria sua irmã (Lc 8.1-2).

3. Por falar nisto, lembre também que os apóstolos, por sua vez, quando tiveram a chance de incluir uma mulher no círculo apostólico em lugar de Judas, escolheram um homem, Matias (At 1.26), mesmo que houvesse mulheres proeminentes na assembléia, como a própria Maria, mãe de Jesus (At 1.14-15) – que escolha mais lógica do que ela? E mais tarde, quando resolveram criar um grupo que cuidasse das viúvas da igreja, determinaram que fossem escolhidos sete homens, quando o natural e cultural seria supor que as viúvas seriam mais bem atendidas por outras mulheres (Atos 6.1-7).

4. Tem mais. Nas instruções que deram às igrejas sobre presbíteros e diáconos, os apóstolos determinaram que eles deveriam ser marido de uma só mulher e deveriam governar bem a casa deles – obviamente eles tinham em mente homens cristãos (1Tm 3.2,12; Tt 1.6) e não mulheres, ainda que capazes, piedosas e dedicadas, como você. E mesmo que reconhecessem o importante e crucial papel da mulher cristã no bom andamento das igrejas, não as colocaram na liderança das comunidades, proibindo que elas ensinassem com a autoridade que era própria do homem (1Tm 2.12), que participassem na inquirição dos profetas, o que poderia levar à aparência de que estavam exercendo autoridade sobre o homem (1Co 14.29-35). Eles também estabeleceram que o homem é o cabeça da mulher (1Co 11.3; Ef 5.23), uma analogia que claramente atribui ao homem o papel de liderança.

5. Você retrucou à minha esposa na troca de e-mails que nenhuma destas passagens se aplica hoje, pois são culturais. Mas, será, Evônia, que estas orientações foram resultado da influência da cultura patriarcalista e machista daquela época nos autores bíblicos? Tomemos Paulo, por exemplo. Será que ele era mesmo um machista, que tinha problemas com as mulheres e suspeitava que elas viviam constantemente tramando para assumir a liderança das igrejas que ele fundou, como você argumentou? Será que um machista deste tipo diria que as mulheres têm direito ao seu próprio marido, que elas têm direitos sexuais iguais ao homem, bem como o direito de separar-se quando o marido resolve abandoná-la? (1Co 7.2-4,15) Um machista determinaria que os homens deveriam amar a própria esposa como amavam a si mesmos? (Ef 5.28,33). Um machista se referiria a uma mulher admitindo que ela tinha sido sua protetora, como Paulo o faz com Febe (Rm 16.1-2)?

6. Agora, se Paulo foi realmente influenciado pela cultura de sua época ao proibir as mulheres de assumir a liderança das igrejas, o que me impede de pensar que a mesma coisa aconteceu quando ele ensinou, por exemplo, que o homossexualismo é uma distorção da natureza acarretada pelo abandono de Deus (Rm 1.24-28) e que os sodomitas e efeminados não herdarão o Reino de Deus (1Co 6.9-11)? Você defende também, Evônia, que estas passagens são culturais e que se Paulo vivesse hoje teria outra opinião sobre a homossexualidade? Pergunto isto pois em outras igrejas este argumento está sendo usado.

7. Tem mais, se você ainda tiver um tempinho para me ouvir. As alegações apostólicas não me soam culturais. Paulo argumenta que o homem é o cabeça da mulher a partir de um encadeamento hierárquico que tem início em Deus Pai, descendo pelo Filho, pelo homem e chegando até a mulher (1Co 11.3).[1] Este argumento me parece bem teológico, como aquele que faz uma analogia entre marido e mulher e Cristo e a igreja, “o marido é o cabeça da mulher como Cristo é o cabeça da igreja” (Ef 5.23). Não consigo imaginar uma analogia mais teológica do que esta para estabelecer a liderança masculina. E quando Paulo restringe a participação da mulher no ensino autoritativo –que é próprio do homem – argumenta a partir do relato da criação e da queda (1Tm 2.12-14).[2]

8. Você já deve ter percebido que para legitimar sua posição como bispa você teve que dar um jeito neste padrão de liderança exclusiva masculina que é claramente ensinado na Bíblia e na ausência de evidências de que mulheres assumiram esta liderança. Não tem como aceitar ser bispa e ao mesmo tempo manter que a Bíblia toda é a Palavra de Deus para nossos dias. E foi assim que você adotou esta postura de dizer que a liderança exclusiva masculina é resultado da cosmovisão patriarcal e machista dos autores do Antigo e Novo Testamentos, e que portanto não pode ser mais usada em nossos dias, quando os tempos mudaram, e as mulheres se emanciparam e passaram a assumir a liderança em todas as áreas da vida. Em outras palavras, como você mesmo confirmou em seu e-mail, a Bíblia é para você um livro culturalmente condicionado e só devemos aplicar dele aquelas partes que estão em harmonia e consenso com nossa própria cultura. Eu sei que você não disse isto com estas exatas palavras, mas a impressão que fica é que você considera a Bíblia como retrógrada e ultrapassada e que o modelo de liderança que ela ensina não serve de paradigma para a liderança moderna da Igreja de Cristo.

Quando se chega a este nível, então, para mim, a porta está aberta para a entrada de qualquer coisa que seja aceitável em nossa cultura, mesmo que seja condenada nas Escrituras. Como você poderá, como bispa, responder biblicamente aos jovens de sua igreja que disserem que o casamento está ultrapassado e que sexo antes do casamento é normal e mesmo o relacionamento homossexual? Como você vai orientar biblicamente aquele casal que acha normal terem casos fora do casamento, desde que estejam de acordo entre eles, e que acham que adultério é alguma coisa do passado?

Sabe Evônia, você e a sua comunidade não estão sozinhas nessa distorção. Na realidade esse pensamento é também popularizado por seminários de denominações tradicionais e professores de Bíblia que passaram a questionar a infalibilidade das Escrituras, utilizando o método histórico crítico, ensinando em sala de aula que Paulo e os demais autores do Novo Testamento foram influenciados pela visão patriarcal e machista do mundo da época deles. Só podia dar nisso… na hora que os pastores, presbíteros e as próprias igrejas relativizam o ensino das Escrituras, considerando-o preso ao séc. I e irremediavelmente condicionado à visão de mundo antiga, a igreja perde o referencial, o parâmetro, o norte, o prumo – e como ninguém vive sem estas coisas, elege a cultura como guia.

Termino reiterando meu apreço e respeito por você como mulher cristã e pedindo desculpas se não posso me dirigir a você, em nossa correspondência pessoal, como “bispa” Evônia. Espero que meus motivos tenham ficado claros.

Um abraço,

Augustus

NOTAS

[1] Esse encadeamento hierárquico se refere à economia da Trindade e trata das diferentes funções assumidas pelas Pessoas da Trindade na salvação do homem. Ontologicamente, Pai, Filho e Espírito Santo são iguais em honra, glória, poder, majestade, como afirmam nossas confissões reformadas.

[2] Veja minha interpretação desta passagem e de outras no artigo da Fides Reformata “Ordenação Feminina”.

O Feminismo Cristão – Como tudo começou por Augustus Nicodemus

Estudar a história do surgimento do movimento feminista é de grande ajuda para nós. Geralmente uma perspectiva global e ampla do assunto em pauta nos ajuda a entender melhor determinados aspectos do mesmo. No caso do movimento feminista, a sua história nos revelará que a ordenação de mulheres ao ministério, em alguns setores do movimento, é apenas um item de uma agenda muito mais ampla defendido por um setor bastante ativista do feminismo nas igrejas cristãs.
Origens do Movimento Feminista Fora da Igreja

Examinemos primeiramente o movimento feminista fora da igreja, focalizando suas principais protagonistas.

Século 18: A Vindicação dos Direitos da Mulher

A “Primeira Onda” do feminismo teve início na primeira metade dos anos de 1700 quando uma inglesa, Mary Wollstonecraft (foto), escreveu A Vindication of the Rights of Woman (A Vindicação dos Direitos da Mulher). Um ano depois desta publicação, Olimpe de Gouges publicou um panfleto em Paris intitulado Le Droits de La Femme (Os Direitos da Mulher) e uma americana, Judith Sargent Murray, publicou On the Equality of the Sexes (Sobre a Igualdade dos Sexos). Outras pensadoras feministas surgiram em pouco tempo tais como Frances Wright, Sarah Grimke, Sojourner Truth, Elizabeth Cady Stanton, Susan B. Anthony, Harriet Taylor e também John Stuart Mill. Seus pensamentos e obras foram defendidos com fervor e pouco a pouco foram deitando profunda influência na sociedade moderna contemporânea do mundo ocidental.

Século 19: A Declaração dos Sentimentos

Em 1848 cerca de 100 mulheres se reuniram em uma convenção em Seneca Falls, Nova York, para ratificar a Declaração dos Sentimentos escrita para defender os direitos naturais básicos da mulher. As autoras da Declaração dos Sentimentos reclamavam que as mulheres estavam impedidas de galgar posições na sociedade quanto a empregos melhores, além de não receber pagamento eqüitativo pelo trabalho que realizavam. Notaram que as mulheres estavam excluídas de profissões tais como teologia, medicina e advocacia e que todas as universidades estavam fechadas para elas. Denunciavam também um duplo padrão de moralidade que condenava as mulheres a penas públicas, enquanto excluía os homens dos mesmos castigos em relação a crimes de natureza sexual.

A Declaração dos Sentimentos foi um marco profundamente significativo no movimento feminista. Suas reivindicações eram, em sua grande maioria, justas e consistentes. Por isto, o movimento foi ganhando muitas e muitos adeptos, apesar, e por causa das grandes barreiras que foram impostas às mulheres que se expunham na defesa de suas idéias e ideais. As leis do divórcio foram liberalizadas e drásticas mudanças ocorreram com o status legal da mulher dentro do contexto do casamento. Por volta dos anos 30, como resultado de sua educação qualificada e profissional, as mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho como força competitiva. Muitas das barreiras legais, políticas, econômicas e educacionais que restringiam a mulher foram removidas e esta começa a pisar o mundo do homem com paixão e zelo.

Século 20: Simone deBeauvoir e Betty Friedan

A primeira fase da construção do feminismo moderno começou com a obra da filósofa francesa Simone deBeauvoir (foto), Le Deuxième Sexe (O Segundo Sexo), em 1949. As mulheres, segundo deBeauvoir, foram definidas e diferenciadas tomando como referencial o homem e não com referência a elas mesmas. Ela acreditava que o sexo masculino compreendia a medida primeira pela qual o mundo inteiro era medido, incluindo as mulheres, sendo elas definidas e julgadas por este padrão. O mundo pertencia aos homens. As mulheres eram o “outro” não essencial. Simone deBeauvoir observa esta iniqüidade do status sexual em todas as áreas da sociedade incluindo a econômica, industrial, política, educacional e até mesmo em relação à linguagem. As mulheres foram forçadas pelos homens a se conformar e se moldar àquilo que os homens criaram para seu próprio benefício e prazer. Às mulheres de seus dias não foi permitido ou não foram encorajadas a fazer ou se tornar qualquer outra coisa além do que o feminino eterno ditava; elas foram cerceadas num papel de “Küche, Kirche, und Kinder” (cozinha, igreja e filhos, em alemão). De acordo com deBeauvoir a mulher estava destinada a existir somente para a conveniência e prazer dos homens.

No início dos anos 60 uma jornalista americana, Betty Friedan, transformou os conceitos filosóficos de Simone deBeauvoir em alguma coisa mais assimilável para a mulher moderna, ao publicar A Mística Feminina, um livro onde examinava o papel da mulher norte americana. De acordo com Friedan, as mulheres dos seus dias foram ensinadas a buscar satisfação apenas como esposas e mães. Ela afirmou que esta mística do ideal feminino tornou as mulheres infantis e frívolas, quase como crianças, levianas e femininas; passivas; garbosas no mundo da cama e da cozinha, do sexo, dos bebês e da casa. Assim como deBeauvoir, ela afirma que a única maneira para a mulher encontrar-se a si mesma e conhecer-se a si mesma como uma pessoa seria através da obra criativa executada por si mesma. Friedan batizou o dilema das mulheres de “um problema sem nome”. Friedan concordou com deBeauvoir que a libertação das mulheres haveria de requerer mudanças estruturais profundas na sociedade. Para isto, as mulheres precisariam ter controle de suas próprias vidas, definirem-se a si mesmas e ditar o seu próprio destino.

O Problema sem Nome: Patriarcado

No final dos anos 60 a autora feminista Kate Millett (foto) usou o termo “patriarcado” para descrever o “problema sem nome” que afligia as mulheres. O termo tem sua origem em duas palavras gregas: pater, significando “pai” e arche, significando “governo”. A palavra patriarcado era entendida como o “governo do pai”, e era usada para descrever o domínio social do macho e a inferioridade e a subserviência da fêmea. As feministas viram o patriarcado como a causa última do descontentamento das mulheres. A palavra patriarcado define o problema que deBeauvoir e Friedan não puderam nomear mas conseguiram identificar. De acordo com as feministas, o patriarcado foi o poder dos homens que oprimiu as mulheres e que era responsável pela infelicidade delas. As feministas concluíram que a destruição do patriarcado traria de volta a plenitude das mulheres. A libertação das mulheres do patriarcado haveria de permitir que elas se tornassem íntegras.

Surgimento do Movimento Feminista Dentro da Igreja

Podemos considerar o livro de Katherine Bliss, The Service and Status of Women in the Church (O Trabalho e o Status da Mulher na Igreja, 1952) como o marco inicial do moderno movimento feminista dentro da cristandade. O livro era baseado numa pesquisa sobre as atividades e ministérios nos quais as mulheres cristãs estavam comumente envolvidas. Bliss observou que, embora as mulheres estivessem extremamente envolvidas na vida da Igreja, a participação delas estava limitada a papéis auxiliares tais como Escola Dominical e Missões. As mulheres não participavam em lideranças tradicionalmente aceitas, tais como as atividades de ensino, pregação, administração e evangelismo, ainda que muitas delas pareciam estar preparadas e terem dons para este exercício. Bliss chamou a atenção da Igreja para a reavaliação dos papéis homem/mulher na Igreja, particularmente da ordenação de mulheres.

Ativistas Cristãos compram a Briga

A obra de Bliss serviu de munição para ativistas cristãos na luta pelos direitos civis e políticos em 1961. Eles, juntamente com as feministas na sociedade secular, começaram a vocalizar o seu descontentamento com o tratamento diferenciado que as mulheres recebiam por causa do seu sexo, inclusive dentro das igrejas cristãs. Neste mesmo ano, vários periódicos evangélicos publicaram artigos sobre a “síndrome das mulheres limitadas aos papéis da casa e esposa”, onde se argumentava que as mulheres estavam restritas a papéis inferiores na Igreja. Os homens podiam se tornar ministros ordenados, mas às mulheres se lhes impunham barreiras nas atividades ministeriais como ensino, aconselhamento e pastoreamento. As mulheres, afirmavam os ativistas, desejam participar da vida religiosa num nível mais significativo do que costura ou a direção de bazares ou arrumar a mesa da Santa Ceia ou serviços gerais tais como o levantamento de recursos para os necessitados, os quais freqüentemente são designados a elas. Tanto quanto com trabalho físico, elas desejam contribuir com idéias para a Igreja.

O Concílio Mundial de Igrejas

A atenção sobre os papéis do homem e da mulher dentro da Igreja se tornou mais intenso na medida em que o movimento secular das mulheres foi ganhando força. Ainda em 1961 o Concílio Mundial de Igrejas distribuiu um panfleto intitulado Quanto à Ordenação de Mulheres, chamando as igrejas afiliadas para um “re-exame de suas tradições e leis canônicas”. Várias denominações começaram a aceitar que o cristianismo havia incorporado em seus valores uma atitude patriarcal dominante da cultura de suas origens. Muitos católicos, metodistas, batistas, episcopais, presbiterianos, congregacionais e luteranos concordaram: a mulher na Igreja precisa libertação. Com esta conclusão em mente, de que a mulher precisava de libertação dentro da Igreja, estabeleceu-se um curso de ação que tinha como alvo abrir as avenidas para o ministério ordenado das mulheres tanto quanto para os homens.

Nos anos 60 as feministas cristãs se colocaram num curso paralelo àquele estabelecido pelas feministas na sociedade secular. Elas, junto com suas contra partes, buscaram anular a diferenciação de papéis de homem/mulher. O tema dominante foi a necessidade da mulher definir-se a si mesma. As feministas criam que às mulheres se deveria permitir fazer tudo o que o homem pode fazer, da mesma maneira e com o mesmo status reconhecido que é oferecido ao homem. Isto, segundo elas criam, constituía a verdadeira igualdade.

Os Primeiros Argumentos em Prol da Ordenação de Mulheres

As feministas cristãs buscaram a inclusão das mulheres na liderança da Igreja sem uma clara análise da estrutura e funcionamento da mesma segundo os padrões bíblicos. Meramente julgaram-na como sexista e começaram a incrementar o curso de ação em resposta a este julgamento. As feministas cristãs, de mãos dadas com suas contra partes seculares, começaram a demandar “direitos iguais”. Na reivindicação destes direitos, àquela altura do movimento feminista cristão, ainda partiam do pressuposto que a Bíblia era a Palavra de Deus. Vejamos seus argumentos.

Os Pais da Igreja Foram Influenciados pelo Patriarcado

Segundo as feministas cristãs, Clemente de Alexandria, Origines, Ambrósio, e Crisóstomo, Tomás de Aquino, Lutero, Tertuliano, Calvino e outros importantes teólogos e líderes da Igreja Cristã, influenciados pelo patriarcado, reafirmaram a inferioridade da mulher através da história da Igreja e, assim, proibiram a ordenação de mulheres e cometeram erros quanto aos papéis conjugais. As mulheres foram excluídas das posições de autoridade porque os pais da Igreja as viam, em sua própria natureza, como inferiores e menos capazes intelectualmente do que os homens.

A Bíblia ensina a Igualdade dos Sexos

Em segundo lugar, as feministas cristãs passaram a afirmar que a Bíblia dava suporte à plena igualdade das mulheres e que os homens haviam negligenciado estes conceitos bíblicos. As primeiras feministas cristãs afirmam que o registro da criação da mulher no Gênesis tem sido quase que universalmente interpretado de uma maneira equivocada para se ensinar que “Deus impôs a inferioridade e a sujeição” da mulher. Os teólogos (homens) foram acusados pelas primeiras feministas de ignorarem as passagens bíblicas que dão suporte à igualdade feminina, torcendo-as para o seu próprio interesse. A doutrina da liderança da Igreja que excluía as mulheres do ministério foi, portanto, apresentada como um subproduto de um estudo amputado das Escrituras.

Não há Diferença entre Homem e Mulher

A tese maior proposta pelas feministas cristãs no início dos anos 60 era idêntica às teses do feminismo secular: não há diferença entre homem e mulher. As feministas argumentaram que concernente às emoções, psique e intelecto, não há demonstração válida de diferenças entre mulheres e homens. Qualquer aparente diferença resulta única e exclusivamente de condicionamentos culturais e jamais de fatores biológicos. Portanto, tendo em vista a igualdade dos sexos, as feministas cristãs reclamam que a mulher deve ser posta em posições de plena liderança dentro de casa e na Igreja em igualdade com os homens.

O primeiro passo do movimento feminista dentro da Igreja foi a ordenação das mulheres para os ofícios eclesiásticos e este foi somente o primeiro passo. A ordenação das mulheres requer o desenvolvimento de uma nova teologia, de uma nova visão sobre Deus, sobre a Bíblia, o culto e o mundo. A teologia deve se redefinir, alinhando-se com o ponto de vista feminino. Foi o próximo passo dado.

Desenvolvimentos Posteriores da Teologia Feminista

Uma teologia inteiramente nova deveria ser buscada, portanto, baseada na experiência e na interpretação da mulher. Um novo desenvolvimento teológico era necessário para dar suporte à ordenação feminina. Esta nova teologia se moveu em várias direções. Veremos que ordenação feminina é apenas um item de uma agenda muito maior e mais radical.

Reinterpretação da Sexualidade Feminina

Rejeitando a definição de feminilidade e dos papéis femininos que lhes foram impostos pelos homens e pela mentalidade patriarcal dominante, uma parte significativa das ativistas radicais demandaram uma nova definição destes itens que partisse de outro referencial. A conclusão a que chegaram foi que a própria mulher é o melhor referencial para sua autodefinição. E na caminhada desta nova descoberta, ela deve se descobrir em relação com outras mulheres e não com o homem. É preciso registrar que não foram todas as feministas que concordaram com este novo passo.

Na década de 70, movimentos radicais em prol do lesbianismo passaram a identificar sua missão e propósito com o movimento feminista em geral. Foi aqui que o lesbianismo entrou no movimento feminista cristão mais radical como elemento chave na reinterpretação da mulher, sua feminilidade, espiritualidade e papéis. A maior contribuição para a entrada do lesbianismo no movimento feminista foi dada pela líder feminista Kate Millet, que publicamente admitiu ser lésbica, após escrever o livro Sexual Politics, best-seller publicado em 1970. O fato ganhou divulgação mundial mediante reportagem da revista Time naquele mesmo ano. Surgiram dentro das igrejas grupos de lésbicas “cristãs” pressionando para a ordenação de mulheres, de lésbicas, a celebração do casamento gay e aceitação de homossexuais e lésbicas ativos como membros comungantes.

Reinterpretação Feminista da Bíblia

A teologia feminista veio a ser profundamente afetada pela hermenêutica pós-moderna, a qual ensina que a escrita e a leitura de qualquer texto são irremediavelmente determinadas pelas perspectivas sociais e experiências de vida dos seus autores e leitores. A esta altura, já se havia abandonado o conceito da inspiração e infalibilidade da Bíblia.

Empregando-se este princípio na leitura da Bíblia, as feministas cristãs concluíram que a mesma é um livro machista e reflete o patriarcado dominante na cultura israelita e grega daquela época. A Bíblia é o livro de experiências religiosas das mulheres e dos homens, judeus e cristãos, mas seu texto foi formado pelos homens, adultos e instruídos. Poucos textos foram escritos por mulheres. Como resultado, os autores freqüentemente enfatizaram somente o papel dos homens. Eles contaram a história de todo o povo a partir de sua expectativa masculina. Desenvolveram a visão patriarcal da religião a ponto de transformar Deus — um puro espírito sem gênero — em um ser masculino! E que este Deus sempre escolheu homens como profetas, sacerdotes e reis porque os homens são melhores ou mais fortes moralmente do que as mulheres!

As feministas radicais propuseram, assim, uma reinterpretação radical da Bíblia partindo da ótica delas. Propuseram também que as mulheres aprendessem a examinar as leituras feitas na ótica patriarcal e a impugnar qualquer interpretação distorcida pelo machismo. De acordo com elas, a interpretação tradicional da Bíblia sempre foi masculina pois o masculino era tido como universal. Hoje, essa leitura ideológica incomodava muitas mulheres e homens nas igrejas.

Elas passaram ainda a defender a publicação de versões bíblicas onde o elemento masculino fosse tirado da linguagem. Estas versões, chamadas de “linguagem inclusiva” não deveriam mais se referir  a Deus como Pai e deveriam chamar Jesus de “a criança de Deus” em vez de Filho de Deus. Já existem dezenas de versões bíblicas assim no mercado mundial. Algumas feministas ainda mais radicais declararam que a Bíblia não é confiável e que as histórias das mulheres de hoje precisam ser adicionadas ao cânon da Bíblia.

Reinterpretação do Cristianismo

Como resultado desta nova leitura da Bíblia, orientada contra todo elemento masculino e contra o patriarcalismo, as feministas propuseram uma reforma radical no Cristianismo tradicional. A ordenação de mulheres é apenas um pequeno aspecto deste projeto. Na concepção delas, a verdadeira religião deve conter elementos que reflitam o poder e a cooperação das mulheres, cuja principal característica é gerar a vida. Assim, mui naturalmente, as feministas adotaram e “cristianizaram” os antigos cultos pagãos da fertilidade, que celebram os ciclos da natureza, as estações do ano, a fertilidade da terra, as colheitas e a geração da vida. Os cultos seguem temas litúrgicos relacionados com as estações do ano. Este novo Cristianismo feminino entende que a mulher é mais apta que o homem para estabelecer e conduzir a religião, pois enquanto o homem, guerreiro, mata e tira a vida, a mulher gera a vida. Aquela que conduz a vida dentro de si é mais adequada para definir a religião e conduzir seus cultos.

Reinterpretação de Deus

O passo mais ousado dado pelo movimento feminista cristão radical foi a “reinvenção de Deus”. Mais de 800 feministas, gays e lésbicas do mundo inteiro reuniram-se nos Estados Unidos em 1998 num Congresso chamado Reimaginando Deus. Os participantes chegaram a conclusões tremendas: o verdadeiro deus de Israel era uma deusa chamada Sofia, que os autores masculinos transformaram no deus masculino Javé, homem de guerra. Jesus Cristo não era Deus, mas era a encarnação desta deusa Sofia, que é a personificação da sabedoria feminina. Esta deusa pode ser encontrada dentro de qualquer mulher e é identificada com o ego feminino (na foto, capa de livro publicado sobre o assunto). No Congresso celebraram uma “Ceia” onde o pão e o vinho foram substituídos por leite e mel, e conclamaram as igrejas tradicionais a pedir perdão por terem se referido a Deus sempre no masculino. Amaldiçoaram os que são contra o aborto e abençoaram os que defendem os gays e as lésbicas.

Conclusão

A leitura das origens e desenvolvimentos do movimento feminista, tanto o secular quanto o cristão, deixa claro que a ordenação de mulheres ao ministério é apenas um item da agenda muito mais ampla dos feministas radicais dentro da igreja cristã.

É claro que nem todos os que defendem a ordenação de mulheres concordam com tudo que se contém na agenda do movimento feminista cristão. É preciso deixar isto muito claro. Conheço pessoalmente diversos irmãos preciosos que são a favor da ordenação de mulheres ao pastorado mas que repudiam as demais teses do movimento feminista radical. O que estou descrevendo aqui principalmente é a postura dos radicais dentro do feminismo evangélico.

Entretanto, não se pode deixar de notar a semelhança notável entre muitos dos argumentos usados para defender a ordenação feminina e aqueles empregados na defesa do homossexualismo nas igrejas, das versões feministas da Bíblia e mesmo da reinvenção de Deus e do Cristianismo.

[Este artigo é reprodução da primeira parte de um Caderno sobre Ordenação Feminina que publiquei algum tempo atrás, que por sua vez utilizou a pesquisa histórica da tese de mestrado do Rev. Ludgero Morais sobre o tema.]

Elegância é algo que a gente carrega, não veste!

eleganciaTexto de  Anieli Talon

Ser elegante vai além de ter bom gosto com roupas e saber se vestir. Elegância é algo que a gente carrega e não veste.

Regras de etiqueta da vida e não do armário para uma vida onde elegância é sinônimo de educação e comportamento.

Sabe o que é mesmo elegante? Ter bom senso e respeito.

Não é preciso estar em cima de um salto alto ou dentro de um terno caríssimo para ser elegante. Atitudes emfeiam pessoas que não tem bom comportamento.

A elegância está na simplicidade de um bom dia sincero para o porteiro que passou a noite toda acordado, no falar baixo quando estiver no está perto, no sabre, quando não é mais do que isso. .

No saber agir sem agredir.
Uma pessoa elegante com encantamento na voz, fala com propriedade e tema como palavras. Sabe chamar a atenção sem ser rude, saber observar sem se intrometer, sabe respeitar o espaço alheio.

A elegância está sem tom da voz e sem silêncio que também comunica. Na forma de se posicionar quando necessário, no jeito de ver o mundo.

Uma pessoa elegante não vive de fofocas, não inventa mentiras e não se mete em baixaria. Quem é elegante tem positividade, atrai pessoas do bem, vibra com uma vida, com os sucessos, torce pelo outro, não tem inveja, carrega alegrias e otimismo, e sente com verdade. Não sabe viver de oportunismos, sabe se colocar nas oportunidades e não saco de bolso nem tapete.

Elegância está não “com licença” e “muito obrigado”. Não há reconhecimento do esforço, na empatia e na colaboração. Está na mão que ajuda, está também na gratidão

E quanto mais conhece pessoas, mais perceber que a elegância está vestida de simplicidade e não de rótulos e invólucros sociais. Encontrei mais elegância calçada de chinelos que vestida de etiquetas, e isso não tem problemas com a situação financeira, mas com referência de vida, criação e sabedoria.

Encontrei uma elegância sem ser e não não, e percebi que é mais elegante que é um vestem de amor.

Inimigo Silencioso

formiga blog beth 130717LEITURA BÍBLICA: Provérbios 6: 6-9

O caminho do preguiçoso é cheio de espinhos, mas o caminho do justo é uma estrada plana (Pv 15:19)

Quando fazemos uma avaliação das coisas que podem causar problemas em nossa vida, pensamos logo em questões de caráter sérias ou situações externas que possam interferir no curso do nosso dia a dia. Podemos até fazer uma lista daquilo que nos atrapalha a seguir nosso caminho e ir resolvendo cada um dos tópicos, não é mesmo?

Possivelmente a preguiça não estará relacionada entre os primeiros tópicos desta lista ou até nem conste dela, por isso é tão perigosa. O texto de Provérbios nos apresenta uma analogia de comportamento com um animal que parece insignificante mas que nos ensina muito sobre este nosso inimigo – a preguiça. Inimigo silencioso porque começa com a procrastinação, que leva a acomodação e daí à inércia é um pulinho. Da inércia à depressão então, nem preciso falar…

A preguiça é um problema muito sério porque além de fazer mal ao preguiçoso desequilibra tudo à volta dele. Causa incômodo e irritação no ambiente de trabalho. Para aqueles que convivem mais intimamente com o preguiçoso ele se torna um peso pois não dá conta de realizar as tarefas mais básicas, vive à espera de ser servido.

É preciso tomar uma decisão séria de lutar contra este inimigo silencioso que exigirá disciplina. Disciplina é a capacidade de se manter focado nas tarefas necessárias para concretização de uma meta sem se desviar e sem perder a motivação. É uma conquista de todos os dias!

Fica a dica para todos nós: Não deixar para depois o que podemos fazer agora! “Depois” é uma palavra muito perigosa! Vamos aprender com as formigas!

O Homeschooling vai chegar ao Brasil?

Family doing homeworkEste assunto tem me interessado muito nos últimos anos. Crianças estudando em casa com seus pais ou tutores. Dentre livros, artigos e posts, decidi publicar para vocês este do Solano Portela. Leiam e vamos comentar o assunto, ok?
“O Homeschooling vai chegar ao Brasil?

Solano Portela[1]

A década de 1990 e a primeira década deste novo século foram caracterizadas por mega tendências (megatrends[2]), ou seja, grandes modificações no curso dos relacionamentos sociais e empresariais. Entretanto, na década 2010-2020 vemos aflorar micro tendências que podem igualmente causar grandes impactos futuros em diversas áreas da sociedade. Mark J. Penn e Kinney Zolesne, em seu livro Microtrends, chamam a nossa atenção exatamente para esse viés das “pequenas forças por trás das grandes mudanças de amanhã”.[3]

O livro traz um capítulo inteiro dedicado ao segmento da educação, onde apresenta comentários e dados sobre uma minúscula tendência, nos Estados Unidos, que vem crescendo exponencialmente e já afeta significativamente o modus operandi de instituições de ensino tradicionais e a visão do campo educacional como um todo. Trata-se do Homeschooling, ou a educação escolar ministrada nos lares, onde as crianças recebem no aconchego de suas casas o preparo acadêmico, fora da estrutura formal supervisionada pelo estado. A primeira vista pode-se pensar que essa tendência teria apenas repercussão na educação básica (do maternal ao 3º ano do Ensino Médio), no entanto, os reflexos no Ensino Superior já não podem mais ser ignorados.

Como avaliar essa microtendência e seus impactos no Brasil? Não chegaremos a uma avaliação precisa se acharmos que o tema representa apenas uma peculiaridade ou idiossincrasia norte-americana. É verdade que lá encontramos bolsões significativos de ferrenha resistência às garras do estado voraz, e à sua avidez em não somente exigir impostos sobre impostos, mas também por pontificar em todas as esferas da atividade humana.[4] No entanto, a prática do homeschooling nos Estados Unidos vai muito além de ser mera característica exclusiva de comunidades contestadoras.

Muitos escolhem essa modalidade simplesmente por constatarem a falência do sistema público de educação; a deterioração da disciplina e segurança para suas crianças, nas escolas; e o preço proibitivo das melhores instituições de ensino particulares ou confessionais. Observem também os seguintes dados,[5] que evidenciam a importância dessa prática que começou timidamente na década de 1970, nos Estados Unidos, e que só passou a ser levada a sério a partir de 1999, quando o Ministério da Educação daquele país começou a levantar dados sobre a crescente onda:
– Em 1999 já haviam 850 mil crianças sendo educadas nos lares. Em quatro anos esse número havia crescido 30%, para 1,1 milhão.
– Isso significa um acréscimo de 1,7% da população nessa idade escolar para 2,2%.
– Existem hoje milhares de sites e eventos destinados a disseminar a prática. O mercado de livros, currículos, vídeos e outros materiais relacionados com o homeschooling, movimenta quase um bilhão de dólares por ano.
– Apesar das crianças educadas no lar representarem apenas pouco mais de 2% da população escolar compatível, elas se destacam surpreendentemente em competições educativas como, por exemplo, nos populares concursos de soletração, onde constituem 12% dos finalistas. Nos testes de admissão ao ensino superior (SAT), os alunos advindos de educação recebida no lar, tiram notas 15% superior às dos demais.
– As universidades têm se adaptado à tendência. Em 2000 apenas 52% possuíam critérios formais de avaliação dos candidatos educados no lar. Atualmente, 83% já adotam critérios na expectativa de recebimento destes, e eles são bem-vindos pela expectativa de um excelente desempenho acadêmico.
Da mesma forma, não podemos apenas adotar uma visão simplista e dizer que no Brasil o homeschooling é proibido e, portanto, não é assunto a ser discutido, pois não há perspectiva de impacto em nosso sistema educacional. Nos Estados Unidos, mesmo tendo começado na década de 1970, até 1981 ela era ilegal na maioria dos estados norte-americanos; agora ela é legalizada em todos eles. Semelhantemente, no Japão o homeschooling é proibido, mas estima-se que 2 a 3 mil crianças estão sendo educadas dessa forma. Até na China, onde subsiste a proibição formal, a existência da “Shanghai Home-School Association”, deixa vislumbrar que a pratica existe, em extensão considerável. Atualmente, além de nos Estados Unidos, o homeschooling é legalizado na Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra e no Canadá.

Presentemente o Brasil já contabiliza alguns poucos casos que têm resultado em processos e contestações judiciais. O Dr. Carlos Roberto Jamil Cury, professor da PUC-MG, em seu ensaio, “Educação Escolar e Educação no Lar: espaços de uma polêmica”[6] apresenta alguns casos de homeschooling no Brasil, que receberam sentenças adversas do nosso judiciário.[7] Dr. Cury concorda com as sentenças e cita parecer do Conselho Nacional de Educação, que expressa a visão prevalecente nos círculos governamentais, de que a única forma de ensino é nas escolas:

“Os filhos não são dos pais, como pensam os Autores [do Mandado de Segurança]. São pessoas com direitos e deveres, cujas personalidades se devem forjar desde a adolescência em meio a iguais, no convívio formador da cidadania. Aos pais cabem, sim, as obrigações de manter e educar os filhos consoante a Constituição e as Leis do país, asseguradoras do direito do menor à escola…”

Mesmo os cristãos que não são a favor do homeschooling, não podem aceitar essa visão estatal de que “os filhos não são dos pais”!

No lado do homeschooling, alguns casos têm recebido atenção da mídia, como por exemplo:[8]
– O caso da família Bueno (9 filhos), de Jardim, MS. Durante 13 anos praticaram a educação escolar no lar. Depois de denunciada à Promotoria Pública por familiares, e de julgamentos adversos, mudou-se para o Paraguai.
– O caso do casal Nunes (3 filhos), de Timóteo, MG. O casal tirou as crianças da escola em 2006. Foram denunciados ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público. Para provar que os filhos não estavam “abandonados intelectualmente”, como era alegado, eles foram inscritos no vestibular da Faculdade de Direito de Ipatinga, MG. Passaram em posição excelente, no 7º e 13º lugar, mesmo sem terem completado o ensino médio.
– O Caso de Júlio Severo, figura controvertida por suas posições políticas e religiosas, que defende homeschooling desde 1991 e foi forçado a mudar-se do Brasil, supostamente por contestações da justiça às suas convicções.[9]
– O caso da conhecida família Schürmann (3 filhos), que, em 1984 empreendeu uma viagem de 10 anos, navegando pelos mares do globo, aplicando o homeschooling em seus filhos, durante todo esse tempo.

Em 1994 o deputado João Teixeira, do PL, apresentou o projeto lei 4657/1994 procurando regulamentar a educação escolar no lar. No entanto ele foi arquivado no ano seguinte. Em 2008, os deputados federais Henrique Afonso, ex- PT, e Miguel Martini, do PHS, apresentaram o projeto de lei 3518/2008, propondo, novamente, a regulamentação do homeschooling no Brasil, do 1º ao 9º ano.

É possível, que mesmo com a visão monolítica de nossa legislação sobre a educação escolar no lar, talvez estejamos testemunhando mudanças e até a formação de jurisprudência que pode impactar o status quo da educacional tradicional.

Será que, com a globalização os casos de homeschooling não poderão se multiplicar no Brasil? Existirão outras decisões judiciais, ou novas leis, que venham legitimar e encorajar a prática? Em uma era de ênfase à Educação a Distância, como barrar iniciativas de “estudo independente” que apresente melhores desempenhos e avaliações do que a educação clássica tradicional?[10] Obviamente ninguém tem respostas precisas a essas indagações, mas ignorar essa microtendência educacional não nos parece o melhor caminho. Assim, nossas Instituições de Ensino Superior deveriam monitorar a tendência e iniciar estudos sobre os impactos (sociais, financeiros, estruturais, acadêmicos e organizacionais) resultantes de uma abertura do homeschooling no Brasil. Deveriam até considerar a possibilidade de que esta modalidade venha a adentrar o Ensino Superior. Possivelmente essa é uma rica linha de pesquisa que poderia estar presente em diversos programas de pós graduação, de forma bastante interdisciplinar, com teses e estudos objetivos e sem paixões ideológicas que substanciarão muitas decisões e definições.

É possível que pesquisas objetivas e sem radicalismos estatais, procurando aferir o lamentável estado do ensino básico, principalmente em sua esfera pública, que leva os pais a procurarem alternativas mais adequadas aos seus filhos, possam contribuir para o sistema educacional como um todo, preparando-nos melhor para o futuro.”

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[1] O autor ocupou a Diretoria de Planejamento e Finanças do Mackenzie (Universidade e Colégios Presbiterianos) e é, atualmente, o Diretor Educacional da Instituição, da qual, de 2005 a 2008, foi também Superintendente de Educação Básica. É escritor, professor e conferencista.
[2] Como exemplo citamos as mega tendências apresentadas nos livros de John Naisbitt e Patrícia Aburdene: Megatrends (1982) e Megatrends 2000 (1990), todas elas confirmadas por uma aferição histórica do que motivou as grandes mudanças sociais e empresariais dessas décadas.
[3] Subtítulo do livro Microtrends (NY: Twelve Hatchette Book Group, 2007), 454 pp.
[4] Nossa convicção, sem endossar extremismos norte-americanos, é a de que o estado (independente de sua nacionalidade) realmente tem a tendência de extrapolar a sua esfera específica de atuação, que é: garantir a segurança pública e assegurar, a todos os cidadãos, oportunidades iguais de igualmente desenvolverem as suas desigualdades.
[5] Trazidos por Mark Penn, em seu livro.
[6] Texto completo disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302006000300003&script=sci_arttext , acessado em 24.05.2010.
[7] Por exemplo, o Mandado de segurança n. 7.407 – DF (2001/0022843-7), impetrado por família interessada cuja segurança foi denegada pelo judiciário, confirmando parecer anterior do Conselho Nacional de Educação.
[8] Um bom relato desses está disponível em: http://ozielfalves.blogspot.com/2008/10/escola-em-casa-crianas-longe-dos-bancos.html , acessado em 24.05.2010
[9] Para mais informações sobre suas posições, vide este blog, mantido pelo Severo: http://escolaemcasa.blogspot.com/, acessado em 24.05.2010
[10] Em 02.05.2015 foi postado artigo com o título: “O Homeschooling é liberado no Brasil”, em http://www.portaltl.com/?p=563 (acessado em 05.02.2016), mas o título é um pouco exagerado e não existiam novidade em trâmites jurídicos relacionados com a prática, até aquela data.

O post acima é de 5 de fevereiro de 2016 mas muito pertinente e atual.

LÍDERES SARADOS, FAMÍLIA RESTAURADA, IGREJA FORTALECIDA – PARTE IX

Família: a primeira linha de defesa Valores (Educação)

FamíliaUma das primeiras coisas que me chamou a atenção no estudo sobre a Família foi a ênfase dada ao tempo que pais e filhos tem que passar juntos e como esse tempo deve ser usado.

Vez após vez, você encontra frases como: quando você caminhar, se deitar, se levantar,” quando você se sentar, escreva (a Palavra) nos batentes das portas da sua casa e em seus portões-“.

Essas são instruções dadas aos pais sobre como ensinar aos seus filhos os princípios de Deus para todas as áreas da vida, e sobre ser um exemplo de como esses princípios devem ser vividos diariamente.

As Escrituras, não só reforçam a responsabilidade e a autoridade dos pais, mas mostram que o envolvimento do Governo e da Igreja no discipulado inicial das crianças deve ser praticamente ausente.

Ouvimos sempre muita reclamação sobre a falta de responsabilidade das nossas escolas, igrejas, e da indústria de entretenimento quanto a ensinar bons princípios às nossas crianças, mas, essa responsabilidade Deus deu aos pais e não a eles.

Não estou querendo defender a imoralidade, a violência e as drogas.

No entanto, ao culparmos a indústria de entretenimento, o Governo, as escolas, as ruas e as armas pelos problemas das crianças, não estamos vendo as coisas como Deus vê.

Estamos dizendo, na essência: “tornem o mundo mais seguro para que meus filhos estejam seguros.” Isso está longe da perspectiva bíblica da realidade. Deus diz:

— Para que seus filhos andem seguros em um mundo inseguro, ensinem e sejam exemplos do que eles precisam saber e entender. O pecado é real e estamos cercados pela maldade. Ensinem seus filhos a escolher o bem ao invés do mal!

Percebemos nas Escrituras que isso leva tempo, e que pais e filhos então estarão fazendo as coisas juntos e usando todas as oportunidades para discutirem como a perspectiva de Deus sobre a vida está relacionada com o nosso cotidiano.

Será que podemos esperar que nossos filhos levem esses princípios a sério, se não os virem nas vidas de seus pais?

Quando chegam à idade escolar, as crianças já sabem, pela maneira como seus pais vivem, se honestidade, justiça, integridade, coragem e se outros atributos de caráter são ou não importantes.

Claro que a escola, os professores, os pastores, a escola dominical, amigos e a cultura podem ter grande influência, mas o lar é a influencia principal na formação da criança e, aos olhos de Deus, claramente, a mais importante.

E a perspectiva de realidade que as crianças usarão para interpretar todas as outras influências que terão em suas vidas.

  Ref.: COPE, Landa. O modelo social do Antigo Testamento. Editora Vida.

Continuaremos…